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Il postino, Itália, 1994 |
A poesia é
então esta metáfora que nos transporta para esse universo estranho que se
encontra escondido nas entrelinhas das palavras propostas pelo poeta. A poesia,
como de fato será vivenciada pelo leitor, não está ali escrita, não existe. Em
verdade, ela nasce no exato momento em que o leitor a lê e se deixa levar, se
deixa embriagar, entorpecer por aquelas palavras. Um poema é por assim dizer um
sem fim de possibilidades, pois cada um de nós é único e se deixará transportar
para um lugar único, particular. A poesia depende do nosso olhar. Apesar de
estar formalmente fora de nós, ela nasce dentro de nós. As palavras penetram nossos
olhos, nossos ouvidos, ressonam em nossas mentes, nossos corações, causando-nos
certo incômodo, provocando-nos sensações estranhas, não necessariamente ruins,
mas que nos fazem sentirmos vivos, pois acessam nossa alma. E é nesse exato
instante que a poesia nasce dentro de nós. Nesse momento, já não somos mais o leitor
e o poeta, somos o terceiro que surge desta relação mágica. Somos um. Somos
únicos. A poesia nasce desse encantamento, dessa magia, desse mistério. E viva
dentro de nós, ela nos altera de alguma maneira. Transforma-nos enfim.
A essência da poesia
está por aí, flutuando entre nós, feito o pólen de uma flor, que o vento leva e
faz passar bem suavemente diante de nossos olhos, querendo fecundar-nos a alma.
No entanto, a poesia só ganha vida quando nossos olhos captam essa sua essência.
Para tanto, é imprescindível que ela nos encontre ávidos, férteis. Prontos a
sermos fecundados. Disponíveis a enxergar a metáfora. Dispostos a sentir a tal estranheza.
A beleza do mundo não está no mundo em si, ela nasce e vive dentro de nós.
Depende do nosso olhar. Portanto, é preciso ter olhos de enxergar a essência
que flutua e roga por se tornar poesia.
Existem muitas
formas de encarar a vida. Ao poeta é negada a chance de escolher dentre estas
muitas formas. Sua sina é ver poesia em tudo. O poeta é esse um que quer nos
fazer enxergar um mundo mais belo, onde o simples, o cotidiano, o corriqueiro, e
até mesmo a dor e o sofrimento, querem ser enlevados. O poeta ilumina-nos a visão
e nos permite apreciar um mundo que só a sua lente é capaz de fotografar. Feito
guia, ele nos conduz por este mundo de contrastes, onde a alegria e a tristeza
vivem de mãos dadas, onde a morte é necessária ao sentido da vida. Assim, quando
nos deixamos guiar pelas mãos do poeta, quando nos entregamos à sua forma
peculiar de encarar o mundo, somos contagiados pela essência da poesia e
passamos também nós a enxergar esse mundo mais belo, mesmo que árduo e
cansativo em certos momentos. E, ao nos deixarmos fecundar pela poesia, somos também
poetas, pois só assim a poesia perpetua-se, mantém-se viva entre nós, não se
extingue. Por isso, fiquemos atentos, pois sem a poesia o mundo não se
sustenta. Tenhamos então olhos de poesia. Talvez, o que estejamos precisando é justamente desse mundo mais estranho. Enfim, deixemo-nos tomar pela sua estranheza.
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