
Um também belo rapaz, destemido e audaz, teimava em
aproximar-se de seu amor mais recente, a cabocla de seios fartos e de nudez
inocente.
Assim como um alvorecer, antes da manhã se romper, por entre as folhas orvalhadas, lá se ia o viandante, de olhos verdes brilhantes, espiar a sua amada.
Como Iara, a sereia, ela fingia-se alheia, mas também o ansiava.
E, por detrás da igaçaba, a virgem índia o encantava com seus negros olhos
de jabuticaba.Era um romance impossível, de futuro imprevisível, já supunha o estrangeiro. Era um amor proibido entre a cabocla e um banido. Era um amor por inteiro.
Numa noite, num rompante, a cabocla e seu amante sucumbiram à
intemperança. E sob a luz dum luar de prata, que alumiava a densa mata, entregaram-se
à aventurança.
E, por entre os arvoredos, embrenharam-se sem medo que os pudessem alcançar. No coração da floresta, com o peito ardente em festa, puseram-se a se beijar.
A virgem de tez macia, que ao corpo de seu amor se unia, o possuía com
avidez. Eis que no abraço, distraídos, abstraíram o perigo. E o inesperado se
fez.
Um guerreiro enciumado, de coração dilacerado,
diante de cena contundente, por despeito ou por vingança, cravou no fidalgo uma lança, que o feriu
mortalmente.
O índio, prometido à virgem, acometeu-se de vertigem, ao ver que sua
flecha de morte também sangrou, no abraço forte, a índia que ele amou.
Num afã desesperado, o guerreiro inconformado, clamou
aos céus por Tupã.Que olhasse para o seu pranto e, por milagre ou por encanto, lhe
salvasse a cunhatã.
E Jaci, que do alto luzia, compadeceu-se da agonia e creu no
arrependimento. E ao índio outrora aguerrido, que ali se via perdido, propôs um
encantamento.
O casal alanceado, a Lua traria ao seu lado, feito estrelas brilhantes. Se aquele guerreiro Tupi aceitasse para si a mesma dor lancinante.
Conta-se hoje na aldeia, que em noites de lua cheia, vê-se a alma do
guerreiro. Que de tristeza varado, segue ali, resignado, às margens do velho
ribeiro.
Sua alma ainda sem paz, desde então sofre incapaz de um mal que não tem cura. Por ter amado intensamente, sente a mesma dor pungente, que lhe enche de amargura.
Com o olhar perdido e sombrio, ele fita à beira-rio as duas estrelas
distantes. E sofre de tal maneira, como se a mesma seta certeira, em seu peito
apaixonado, lhe cravassem a todo instante.