quinta-feira, 19 de abril de 2012

Saudade, dor pungente!

Sob a luz primeira da manhã, a bela índia, a cunhatã, de cabelos negros luzentes, distraída e serena, banhava sua pele morena, no riacho de águas correntes.

Um também belo rapaz, destemido e audaz, teimava em aproximar-se de seu amor mais recente, a cabocla de seios fartos e de nudez inocente.

Assim como um alvorecer, antes da manhã se romper, por entre as folhas orvalhadas, lá se ia o viandante, de olhos verdes brilhantes, espiar a sua amada.

Como Iara, a sereia, ela fingia-se alheia, mas também o ansiava.
E, por detrás da igaçaba, a virgem índia o encantava com seus negros olhos de jabuticaba.

Era um romance impossível, de futuro imprevisível, já supunha o estrangeiro. Era um amor proibido entre a cabocla e um banido. Era um amor por inteiro.

Numa noite, num rompante, a cabocla e seu amante sucumbiram à intemperança. E sob a luz dum luar de prata, que alumiava a densa mata, entregaram-se à aventurança.

E, por entre os arvoredos, embrenharam-se sem medo que os pudessem alcançar. No coração da floresta, com o peito ardente em festa, puseram-se a se beijar.

A virgem de tez macia, que ao corpo de seu amor se unia, o possuía com avidez. Eis que no abraço, distraídos, abstraíram o perigo. E o inesperado se fez.

Um guerreiro enciumado, de coração dilacerado, diante de cena contundente, por despeito ou por vingança, cravou no fidalgo uma lança, que o feriu mortalmente.

O índio, prometido à virgem, acometeu-se de vertigem, ao ver que sua flecha de morte também sangrou, no abraço forte, a índia que ele amou.

Num afã desesperado, o guerreiro inconformado, clamou aos céus por Tupã.Que olhasse para o seu pranto e, por milagre ou por encanto, lhe salvasse a cunhatã.

E Jaci, que do alto luzia, compadeceu-se da agonia e creu no arrependimento. E ao índio outrora aguerrido, que ali se via perdido, propôs um encantamento.

O casal alanceado, a Lua traria ao seu lado, feito estrelas brilhantes. Se aquele guerreiro Tupi aceitasse para si a mesma dor lancinante.

Conta-se hoje na aldeia, que em noites de lua cheia, vê-se a alma do guerreiro. Que de tristeza varado, segue ali, resignado, às margens do velho ribeiro.

Sua alma ainda sem paz, desde então sofre incapaz de um mal que não tem cura. Por ter amado intensamente, sente a mesma dor pungente, que lhe enche de amargura.

Com o olhar perdido e sombrio, ele fita à beira-rio as duas estrelas distantes. E sofre de tal maneira, como se a mesma seta certeira, em seu peito apaixonado, lhe cravassem a todo instante.

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