quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Desejo a você toda fisico-química do mundo...

Que a noite de Natal e todos os dias do ano que se aproxima sejam de baixa pressão e altíssima temperatura, para que tudo possa fluir com comportamento o mais próximo possível do ideal. Que Deus seja a nossa fonte de corrente contínua, tendo o Amor como anodo, capaz de atrair toda sorte de carga negativa – ódio, desarmonia, inveja – e oxidá-las, aumentando seu Nox, tornando-as, senão positivas, pelo menos, neutras. Que no ano vindouro, nossas vidas tenham uma d.d.p. positiva e bem elevada, que sejamos geradores de energia, com anodo com baixíssimo potencial de redução, para repelir toda carga negativa, e um catodo capaz de absorvê-la e neutralizá-la com bastante eficiência. Que tenhamos uma boa ponte salina para manter o equilíbrio e a movimentação das espécies carregadas. Frente às dificuldades do cotidiano, tenhamos um alto potencial de redução, para que nada, nem ninguém, possam nos oxidar.
        
Que no convívio com pessoas de Ka muito elevado – fortemente ácidas – possamos, em contrapartida, apresentar-lhes um Kb também elevado, para que nossa base, nossos princípios, sejam fortes o suficiente para neutralizar qualquer tipo de intrigas e desavenças. Nos momentos de fraqueza, procuremos estar juntos de nosso par conjugado, para que sejamos capazes de tamponar nosso meio e, frente às pequenas perturbações externas, alterar o mínimo possível nosso [–log(AZ)]. Tenhamos Fé no Princípio de Le Chatelier, pois nosso equilíbrio pode até ser perturbado, mas a gente sempre reage com o intuito de restabelecê-lo. Que tenhamos quantidade suficiente de solvente para diluir nossos problemas e mantermo-nos cada vez mais distantes da saturação. Que nossa paciência tenha um Kps bem pequenininho, para que ela nunca se dissolva. Que o produto iônico entre os nossos sonhos e a nossa força de vontade seja grande o suficiente para produzirmos realizações bastante sólidas e com pé no chão. Que a Alegria tenha em nossas vidas um Kc elevadíssimo para que nosso equilíbrio tenda a dias de muitas reações de riso e gargalhadas. Quando estivermos tristes, que nos afastemos de ambientes onde a tristeza já esteja disseminada, pois de outra forma vai ser muita mais difícil dissolvê-la, devido ao efeito do íon comum. Que nossas soluções sejam concentradas na gentileza, no perdão e no amor ao próximo. Que busquemos a simplicidade das soluções básicas, e então adicionemos algumas gotas de azul de bromotimol, afim de que tudo fique azul ou se, preferirem, fenolftaleína, para um mundo mais cor de rosa.

Que a gente tenha por perto alguém para provocar em nós reações endotérmicas, fornecendo muito calor ao nosso sistema, e dando, é claro, aquela bagunçada de leve na nossa vida, aumentando assim nossa entropia, para que o nosso delta G seja sempre menor que zero, preservando assim a nossa espontaneidade. Se a coisa tiver muito difícil de ser solucionada de uma vez só, divida em etapas, some esforços. Segundo a Lei de Hess, nós já sabemos que o resultado final vai ser o mesmo. Que nossos contatos tenham energia suficiente para provocar em nós choques efetivos. Que a gente não perca tempo com espécies pelas quais não temos afinidade, porque não adianta, não vai rolar reação, não vai rolar química! Se nossas neuroses e complexos estiverem muito ativados, saibamos escolher o melhor catalisador, aquele que seja capaz de diminuir a energia de ativação e fornecer-nos um caminho alternativo, mais rápido e eficiente. Frente às dificuldades, tenhamos sempre em mente que se a gente esquentar demais, nossos pensamentos aumentam sua energia cinética, agitam-se demais, provocando reações rápidas e impulsivas. Lembrem-se, no entanto, que a reação diante das dificuldades é exotérmica, portanto se a gente esquenta muito a cabeça, o equilíbrio se desloca no sentido dos problemas, e o rendimento certamente vai cair. Portanto, é preciso ter sangue frio para deslocar o equilíbrio no sentido de produzir soluções mais eficazes. A reação pode até ser mais lenta, mas o rendimento vai ser bem melhor. A parcimônia, nesses casos, pode ser um ótimo catalisador. Que a gente possa, frente às coisas boas da vida, aumentar nossa superfície de contato, afim de que seja maior a nossa interação. Que na lei de velocidade das nossas vidas, pessoas felizes, alto-astral, de bom caráter, tenham alto grau de influência, que vivamos com elas as etapas mais lentas de nossas vidas, e que as pessoas negativas e invejosas sejam de ordem zero.

Que sejamos hipotônicos frente ao Amor, a Paz, a Esperança e hipertônicos frente ao rancor, à raiva, a inveja e a desesperança. Se não tiver jeito, que a gente coloque então um pouco de sal grosso nas nossas soluções, para aumentar os efeitos coligativos. Pelo menos assim, demoraremos mais a entrar em ebulição e será bem mais difícil fundir a nossa cuca. Se for necessário, mude de fase. Se o caminho para atingirmos uma fase mais fluida estiver nos consumindo muito energia e mantendo-nos sob pressão constante, tracemos outra estratégia: muitas vezes, diminuir a pressão e sublimar é uma ótima alternativa. Que a nossa Saúde tenha um pressão de vapor bastante elevada, para que não evapore com tanta facilidade. Que a gente mantenha uma tensão superficial adequada, para evitar que as coisas afundem tão facilmente em nossas vidas, mas que não seja tão grande, a ponto de nos fazer explodir de uma hora pra outra. Se tivermos que engolir sapos, que eles pelo menos tenham uma viscosidade baixa, para poderem escoar mais tranquilamente.

Que na noite de Natal, e em todos os dias do Ano Novo, possamos estar em estado coloidal, cheios do efeito Tyndall, para que possamos absorver a Luz do Menino Jesus em nossas vidas... num tremendo movimento browniano, ziguezagueando, festejando pra lá e pra cá, aglutinados entre amigos, e protegidos por nossa camada de solvatação – nossa família – mantendo-nos bem leves, estáveis, com o espírito em suspensão, e sem perigo de precipitação. Enfim, que a gente consiga colocar em prática as resoluções de Ano Novo desde o início do mesmo, porque assim o ano vai ser bem mais tranquilo. Porém, se a preguiça não deixar, e a gente vacilar, não se esqueça de que sempre é possível melhorar. Se no fim de tudo, as coisas continuarem complicadas, não podemos nunca perder a esperança na recuperação. Além do mais, se nem tudo der certo no próximo ano, sempre haverá um novo ano pra gente reagir e tentar novamente. Um feliz e abençoado Natal e um Ano Novo cheio de realizações tanto físicas quanto químicas.



10 comentários:

  1. Que texto maravilhoso!

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  2. Muuuuuuuuito bom texto, Anderson!
    Parabéns!

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  3. Muito legal! Estava inspirado hein?
    Abs

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  4. Ótimo texto, Anderson!
    Feliz Natal para você também!

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  5. Anderson,
    curti 1 milhão de vezes o seu texto. Já publiquei no meu facebook e mandei a algumas pessoas queridas por email, com os créditos devidamente dados a você, claro!
    Parabéns de verdade, é um texto inteligente, gostoso de ler, e que faz a gente sorrir!
    =D

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  6. Nada melhor numa noite de insônia do que ficar passeando pelas vias da internet e lendo! Me surpreendi quando dei de cara com um blog de um ex professor meu! E o blog foi a minha sobremesa da noite! Li e adorei! Adorei de verdade! E é claro que sendo um apaixonado pela química, esse teria que ser o meu preferido! Com direito a compartilhamento no facebook! Parabéns, Anderson! Textos e pensamentos de qualidade! Voltarei aqui sempre! E um Feliz Natal atrasado!

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  7. Lindo texto, vou usá-lo sempre como referência para o ensino de química. VALEU!!!!

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