domingo, 13 de maio de 2012

Mãe, fonte de minha energia química!

       Neste dia dedicado àquela que há tanto nos transmite seu calor, seu carinho e amor, aproveito para agradecer à minha mãe querida, por ter sido o reator em que minhas primeiras reações químicas puderam ser realizadas. Sem você eu não seria possível. Obrigado por não permitir que, a princípio, meu equilíbrio fosse atingido. Por ter sido a fonte de tantos reagentes, sem os quais minhas reações não seriam deslocadas no sentido de gerar mais produtos. Quem diria, mãe, que você me faria experimentar tão cedo o Princípio de Le Chatelier? Logo eu, que crescendo dentro de você ia provocando uma confusão só, aumentando cada vez mais a sua entropia, consumindo sua energia livre, afim de que todas aquelas minhas reações não-espontâneas pudessem acontecer e meu organismo tão complexo pudesse se formar dentro de você. Obrigado por abrigar por tanto tempo a imensa quantidade de reações orgânicas, com todos aqueles mecanismos complicadíssimos, as inúmeras reações bioquímicas e suas rotas metabólicas dificílimas. Obrigado por ter sido a primeira vizinhança do meu sistema. Por ter fornecido calor para minhas reações endotérmicas e ter absorvido o calor liberado pelas minhas reações exotérmicas, com tanto carinho e disponibilidade. Por todo suor evaporado para manter nossa temperatura ideal. Obrigado por ter me fornecido toda aquela solução amniótica, de pH e pressão osmótica perfeitos para o meu desenvolvimento no seu ventre. E por ter carregado aquele volume todo de solução por tanto tempo. Desculpe-me por ter roubado tanto do seu Ca2+, mas era necessário para a formação da minha estrutura óssea. Valeu também pelas quantidades de íons ferro, foi essencial para a formação do meu sangue. Sei também que foram muitas moléculas de glicose sendo oxidadas a CO2(g) e muito O2(g) reduzido a H2O(l), muita transferência de elétrons, para gerar tanta energia durante aqueles tantos meses de gestação. Tantas enzimas para catalisar aquelas reações essenciais ao meu crescimento dentro de você. Obrigado por ter realizado toda aquela força para provocar o meu deslocamento para fora do seu corpo, valeu pelo trabalho muscular realizado! Obrigado também pelo seio que forneceu meu primeiro coloidezinho, cheio de nutrientes e proteção imunológica. E, mais tarde, pela paciência e dedicação ao seguir tantas vezes os procedimentos experimentais para preparar tão pacientemente minhas mamadeiras de amido de milho, meus chazinhos de erva-doce, minhas papinhas. Foram tantas misturas, diluições, agitações constantes, extrações, filtrações, fusões, evaporações, banhos-marias, banhos de gelo, aquecimentos, resfriamentos, tomadas de temperatura, enfim, tudo para que eu ficasse bem alimentado e satisfeito. Obrigado por toda atenção dedicada para me manter dentro das normas padrões de segurança e higiene. Obrigado pela fiscalização incansável e tão eficiente dos meus resíduos sólidos e líquidos. Sei que foram muitas noites mal dormidas, tentando manter minhas condições normais de temperatura e pressão.

Talvez essa mensagem nem faça tanto sentido pra você, talvez você nem leia, pois nem vai entender muito bem. Mas, o que importa mesmo, e o que eu queria que você soubesse, é que sem sua energia, sem suas reações químicas na minha vida, eu nada seria. Obrigado por cada átomo fornecido, por cada mol de reagentes, por cada caloria gasta, pela relação perfeita entre termodinâmica e cinética que você possibilitou. Obrigado por manter o equilíbrio, quando necessário. Enfim, obrigado, por ter me fornecido sua fronteira diatérmica para que eu sentisse minha primeira transferência de calor, quando você encostou pela primeira vez seu rosto no meu, me aqueceu, e me fez perceber o quanto seria importante para mim, manter relações físico-químicas com você por resto da vida. Mãe, obrigado por fazer minha vida tão espontânea!

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